um relato na primeira pessoa:
A primeira maratona – António Bento
No sábado (3/12) os últimos 20′ para descontrair. Tudo a postos. Tinha iniciado o treino em 26 de Julho. 4 meses e uns pós de intenso e volumoso treino. Treinos pelas 6:30 da manhã (pelo menos os 2 durante os dias de semana), pescadores a perguntarem-me em Algés se ia fazer séries J, muitos nascer do sol, muita chuva e molhas torrenciais, muito Guincho. Muitos
quilómetros. O controlo dava boas pistas – 10km, Corrida do Tejo em 48:02, meia da Nazaré em 1:43:12. Grande motivação para correr a maratona acompanhado pelos Amigos do GAFE (Grupo de Atletas do Fundo da Estrada) – quer na corrida, quer a apoiar (obrigado Barrigas e Paulo Vieira). Também o Gonçalo (que na prática já é do GAFE), Amigo de infância que me acompanhara na estreia na meia de Lisboa há precisamente 2 anos. Também ele ia fazer a sua estreia numa maratona. O plano era simples – rolar a 5:30/km. Passar à vontade à meia e depois logo se via (2 semanas antes, 2 horas, ao ritmo de 5:30/km, com a pulsação bastante estável). Tudo era confiança. Pensava num tempo abaixo das 4h. Mas a gestão das expectativas nem sempre é linear e creio ter sido o factor decisivo para o que sucedeu.
Lá fomos no ritmo previsto. A pulsação estava elevada talvez devido à natural excitação. Mas os quilómetros passavam e não havia forma de baixar. Na Almirante Reis senti que para manter o ritmo estava a fazer um esforço elevado. À meia maratona o parcial de 1h59′ – média de 5:39/km. Ainda assim dentro do previsto. Aos 25 km percebi claramente que, ou continuava e mais à frente limitaria as possibilidades de terminar, ou alternava caminhada com corrida para diminuir a FC e lá chegaria ao final. Aos 30km ainda pensei poder terminar um pouco acima das 4h. Aos 33km já não pensava nada a não ser terminar, fosse de que jeito fosse. A desistência aflorou o nível mais escondido da consciência, mas logo foi diluída pela certeza de que queria terminar e de que ia terminar. As palavras de incentivo sucediam-se entre companheiros de prova. Cruzei-me com o Gonçalo que também ia a sofrer bastante. No ponto de viragem a desagradável surpresa de ver os 2 moços da organização sentados com as mãos no queixo e nem 1 palavra. Ao invés da festa estavam a fazer 1 grande frete. Pelos 37 km uma nova onda de auto-motivação, “já só faltam 5 km” e agora pensava que conseguiria terminar abaixo das 5h. Pelos 39km a surpresa de ver o Pedro Oliveira em sentido contrário. Vinha-me rebocar. Ele e o Nuno Cabeça tinham terminado com 3:25. Menos 15′ que em Abril em Paris. Grandes heróis. Meus heróis. Grandes companheiros. Aos 40km um “give me five” com uma atleta Suiça. Ela não percebeu e apertou-me a mão J. Palavras de incentivo mútuo e lá seguimos. Ainda tempo para sorrir ao ver o Pedro Teixeira e a Ana. “Gandas” malucos todos eles – à minha espera durante 1h e meia. Finalmente a placa dos 42km, a equipa GAFE e a Cristina. As fotos do Carlos, o Nuno a dar um último empurrão e a meta, tão desejada. Fiz a festa, levantei os braços, terminei. Ao fim de 4h51′! Terminei a minha 1ª maratona. Resisti a tudo e cortei a linha de meta. Afinal o mais importante.
As razões para tanto tempo no asfalto? Expectativas para menos de 4h que começaram inconscientemente a aumentar a ansiedade. Estava bem preparado e por isso mesmo talvez não tenha gerido eficazmente a expectativa. Um período de “tapering” calmo do ponto de vista físico, mas intenso do ponto de vista pessoal / emocional, nas 3 semanas que antecederam a prova. Comprovando igualmente que numa prova tão longa, apesar do treino ter corrido como previsto, apesar dos bons níveis de desempenho intercalares, há variáveis colaterais que têm tanta intensidade e impacto como o treino em si. E no dia da prova a pulsação não pode disparar daquela forma.
O que mais há a dizer? Que voltarei um dia a fazer outra maratona! Que se lixem os ritmos, o corpo é que vai mandar desde o início, tal como comandou a partir dos 33km! Que tenho uns Amigos fantásticos e que pertenço a um GAFE mágico.
Apenas mais 2 palavras para a organização: PARABÉNS, creio que no geral correu muito bem. Para além dos 2 moços que NÃO queriam estar ali no último ponto de viragem, a questão das marcações quilométricas. Não é aceitável que ao fim de 20 anos ainda não se acerte com a marcação dos km. Para quem faz uma maratona é fundamental para ver ritmos e ajudar a analisar a resposta do corpo.
Obrigado a todos os que me apoiaram para percorrer os 42,195m. Sou um dos Vossos, já consegui!
António Bento
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