Maratona de Paris 10/04/2005
a primeira crónica!
Eram 5:45 da manhã e o despertador toca… cientificamente 3 horas antes do tiro de partida – confesso que já estava acordado há algum tempo. Tomámos o pequeno-almoço composto pelas óbvias baguettes com compota de framboesa e mirtilos acompanhado por leite ou chá. Como nós tínhamos o “luxo” de estar a menos de 5 minutos a pé da partida, voltámos a descansar os músculos na horizontal mas íamos pondo os dedos na parte de fora da janela para sentir a temperatura.
Os meus intestinos gemiam de tanta emoção e de tanto glicogénio no depósito disposto a ser gasto, e por causa disso levaram-me 3 vezes à toilette.
Pelas 8:15 descemos do nosso 6º andar equipados com a roupa para deitar fora e uns plásticos por cima. Fomos à procura da entrada para o nosso tempo previsto (3:45) e estivemos sempre bastante confortáveis durante 20 minutos e pouco antes da hora, lá apertámos quando retiraram as grades.
Não ouvimos o tiro de partida mas ao fundo dos Champs – Ellises já o pessoal estava a correr. A massa humana de 35500 participantes ia a ANDAR até ao arco da partida e respectivo tapete de chip e só a partir desse momento é que começámos a correr, achei espectacular. Eram muitos os que tinham a bexiga cheia aliviavam nos jardins e até nos pára-choques dos carros que tinham publicidade no centro da avenida.
Lá continuámos no nosso no nosso ritmo previsto (nunca vi as lebres dos balões) fazer os primeiros 5 km ligeiramente acima de 5:20/km, cerca dos 3 km deixámos as roupas velhas no passeio e lá fomos descontraídos a desfrutar o momento, passámos pelos portugueses dos Zatopeques (que já tínhamos encontrado no dia anterior na corrida do pequeno-almoço) e lá iam os dois agarrados à nossa bandeira cheios de orgulho e satisfação.
Começam as primeiras pessoas a gritar por nós – “allez Pedro!” “allez Carlos!” “allez Nuno!” – isto porque nós tínhamos o nosso nome escrito na frente das nossas camisolas (segui uma dica que vi num dos muitos sites americanos, e realmente funciona mesmo, sabe sempre bem ouvir as pessoas a puxar por nós, principalmente na parte final) como passatempo fizemos um pequeno concurso para ver qual era o nome mais popular mas acabámos por desistir, pois eram tantas as vezes que chamavam que perdemos a conta.
Os abastecimentos eram mesmo caóticos, sempre com quartos de laranja, bananas e água o piso da zona ficava também bastante escorregadio. Devo salientar que o pelotão ocupava sempre a totalidade da estrada do início ao fim da prova (é comparável ao primeiro km da meia da ponte Vasco da Gama ou da 25 de Abril…)
Passámos os 10 km em 53:08 a um ritmo de 5:13/km, estávamos todos bem, então decidimos que quando entrássemos no Bosque de Vincennes seria efectuado o primeiro “pit stop” para aliviar a bexiga, marcámos como ponto de encontro a linha azul que marcava o percurso e lá fomos à vez cada um a fazer o seu sprint, o grupo ficou junto mais à frente apesar da dificuldade de nos vermos no meio daquele transito, mas a nossa bandeira impressa nas costas do equipamento ajudava ao reencontro. Na meia maratona estávamos todos muito bem e perfeitamente dentro do previsto, mas toda a gente dizia que a segunda parte era mais difícil, alguns portugueses iam passando por nós e saudavam-nos.
A partir do km 25 já estamos à beira do Sena, de repente reparo que o senhor que ia a correr à minha frente ia a falar ao telemóvel, depois vejo um senhor a trocar de roupa junto à esposa e pensei “isto é mesmo fabuloso!”. Entrámos na zona dos túneis e pelotão grita: “Nous ne sommes pas fatiguez!” e faz como que uma onda sonora se espalhe ao longo do túnel com cerca de 2 km.
Estamos a chegar à zona do muro, entre os 30 e os 35 km, nesses abastecimentos estava a contar com o gel da powerbar e bebida isotónica, mas nada… tive que me ficar pelas passas de figo e alperce, pelo gel do Pedro (eu já tinha gasto os meus antes) e água. Aos 35 o Carlos ficou para traz e o Pedro lá andava para traz e para a frente a dar apoio. Eu sentia-me muito bem e comecei a aumentar o ritmo (fiz os últimos 2 km e 195 m em 10 minutos, num ritmo de 4:33/km) para me distrair e não pensar em dores ou coisas parecidas vou inspirando profundamente pelo nariz a cada cinco passadas e gritando baixinho “força! força! força!”, entretanto aparece o Pedro sempre a puxar, e nós sempre, sempre a ultrapassar fazemos um sprint espectacular… e já a está feito!
Não acredito que fosse frio, mas naquele momento senti um arrepio pela espinha e fiquei com “pele de galinha”… O Carlos chegou pouco depois com 11 minutos a menos no record pessoal e um sorriso nos lábios.
Um abraço,
a minha corrida
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