Fez em Setembro 12 anos que tu chegaste para revolucionar o nosso lar, tinhas um olhar assustado dentro da caixa de cartão depois da tua viagem da Covilhã, lembro-me que te demos uma tigela com leite, que tu bebeste com vontade.

Não me esqueço daquela vez que foste ao veterinário e ele disse que precisavas de ser operado à orelha, pois um cachorro com um ano não podia ter uma orelha em cima e outra em baixo.

E os nossos passeios a explorar a Serra de Sintra? E quando fomos os três à tua terra? e tu sentiste o frio da neve e não estranhaste, estavas na tua terra afinal… fartavas-te de ladrar no carro e nós à espera que tu ficasses cansado e adormecesses, mas não, sempre com uma grande excitação e nem sequer enjoavas. E aquela vez que cometemos o erro de te levar à praia? pensámos numa que tivesse espaço e pouca gente, depois de uma viagem longa até Tróia lá andaste a fazer xixi nos carretos das canas de pesca e tiveste que passar o resto do dia preso pela trela. E aquela semana que passaste no hotel canino? e eras o único que tinha que passear na relva para fazer as necessidades.

Desculpa os longos dias que passaste sozinho em casa, e apesar do pequeno quintal tu ficavas nervosamente a roer a tuas patas, desculpa não te ter levado a passear mais vezes e só nos últimos anos passar a ter essa atenção para ti. Mesmo assim temos que te agradecer por estarmos numa casa com quintal, se não fosses tu, quase de certeza que estávamos a morar num apartamento.

Fizemos tudo para te dar a maior dignidade possível neste teus últimos dias, a dona a fazer comida gostosa só para ti e tu ontem à tarde ainda fizeste um ultimo grande esforço e foste dar a tua volta comigo, espero sinceramente que hoje não tenhas sofrido, tomei aquela decisão para o teu bem e para que não sofresses mais, a dona esteve lá ao teu lado, mas eu prefiro recordar o bons momentos e o teu olhar quase a pedir para fazer aquilo que acabei por fazer.

Estiveste connosco todos estes anos, éramos uma família, hoje sentimos falta de ti e tu ainda partiste há bocado, era de manhã e estava a chover… porta-te bem Giga!

a minha corrida

14 comentários

  1. Perante isto, o que dizer, Nuno? Uma história muito bem contada mas que, de certeza, o Nuno nunca desejou escrever. Fica a memória de um amigo de grande parte da vida.
    Grande Abraço.
    FA

  2. Escrevo comovido com as lagrimas nos olhos. A coragem do texto merece um abraço amigo de quem não conheces mas que também adora os nossos amigos de 4 patas, muitas vezes, maioria delas, como que uma extensão do nosso ser.

  3. Caro amigo Nuno não te preocupes. Eu sei que o teu Giga anda a brincar com o meu Colombo no céu dos cães tentando abocanhar os tufos das nuvens. Lá são de novo cachorros loucos…

    “Achas que os cães não vão para o Céu? Pois digo-te que vão, e que chegam lá muito antes de qualquer um de nós!” – Robert Louis Stevenson

  4. Já entrei inumeras vezes neste teu blog, e o que me trouxe aqui foram sempre os teus comentários e narrativas relacionadas com a corrida, que é uma paixão que também tenho. Nunca até hoje comentei o que quer que fosse do que aqui li, mas hoje não posso deixar de te mandar um abraço, mesmo sem te conhecer pessoalmente e sem termos trocado uma palavra (acho que já te vi por aí em provas! Eu vou a poucas!).
    Quem tem e gosta de animais, não pode deixar de ficar sensibilizado com o teu texto.

    Grande abraço!

  5. A lembrar-nos que temos de aproveitar o que temos, enquanto temos…

    Um companheiro é sempre um companheiro… seja lá de que espécie for.

    Os meus sentimentos pela perda, e …como tudo, ficam os momentos partilhados, os que ele deixou e os que levou.

    Ana Pereira

  6. Coragem Nuno!

    Sou solidária contigo e sei bem o sentimento que tens neste momento. Infelizmente já passei pela mesma situação mais do que uma vez e ainda este ano me despedi de um amigo de há 15 anos!

    Valeu a pena a companhia, as diabruras, os passeios à chuva, as escavadelas, as lambidelas…

    beijinho

    Ana

  7. Lembrei-me da minha Lara que partiu no verão, com 9 anos, e uma doença súbita que a fez definhar rapidamente e para a qual só houve a solução de lhe abreviar o sofrimento.
    Na altura ainda não tinha blogue mas se tivesse não sei se teria sido capaz de tornar público o que escrevi.
    É um vazio que fica cá dentro e se pode tentar esconder e disfarçar mas permaneçe connosco para o resto da vida.

  8. Caro Nuno;

    É um texto emocionante, com muito sentimento. Um animal que faz parte da família é algo que faz dor a sua partida.
    Imagino-me quando o nosso grande companheiro da família também partir. Mas também está garantido, que foi este e não haverá mais nenhum a ocupar o seu lugar.

    Um abraco
    José Xavier – Holanda

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